Bento XVI afirmou que os cristãos são as principais vítimas de perseguição religiosa no mundo, destacando, em particular, a situação de violência contra as comunidades católicas no Iraque. “Os cristãos são, actualmente, o grupo religioso que padece o maior número de perseguições devido à própria fé. Muitos suportam diariamente ofensas e vivem frequentemente em sobressalto por causa da sua procura da verdade”, refere o Papa, na sua mensagem para o Dia Mundial da Paz 2011.
No texto, antecipadamente divulgado pela Santa Sé, o Papa diz ser “doloroso constatar que, em algumas regiões do mundo, não é possível professar e exprimir livremente a própria religião sem pôr em risco a vida e a liberdade pessoal”, o que considera "uma ameaça à segurança e à paz". «Liberdade Religiosa, caminho para a paz» é o tema da 44ª Jornada Mundial da Paz, celebrada na Igreja Católica, desde 1968, a 1 de Janeiro.
Bento XVI considera que o ano em curso ficou “marcado pela perseguição, pela discriminação, por terríveis actos de violência e de intolerância religiosa”.
“Penso, em particular, na amada terra do Iraque, que, no seu caminho para a desejada estabilidade e reconciliação, continua a ser cenário de violências e atentados”, escreve.
O Papa condena o “o vil ataque contra a catedral siro-católica de «Nossa Senhora do Perpétuo Socorro» em Bagdad, onde, no último dia 31 de Outubro, foram assassinados dois sacerdotes e mais de cinquenta fiéis, quando se encontravam reunidos para a celebração da Missa.
“A este ataque seguiram-se outros, nos dias sucessivos, inclusive contra casas privadas, gerando medo na comunidade cristã e o desejo, por parte de muitos dos seus membros, de emigrar à procura de melhores condições de vida”, alerta Bento XVI.
São também lembradas as comunidades cristãs que sofrem "perseguições, discriminações, actos de violência e intolerância, particularmente na Ásia, na África, no Médio Oriente e de modo especial na Terra Santa", com um apelo do Papa pelo fim de "toda a violência contra os cristãos" que habitam nestas regiões.
"Na Ásia e na África, as principais vítimas são os membros das minorias religiosas, a quem é impedido professar livremente a própria religião ou mudar para outra, através da intimidação e da violação dos direitos, das liberdades fundamentais e dos bens essenciais, chegando até à privação da liberdade pessoal ou da própria vida.
A mensagem papal alerta ainda que “noutras regiões, há formas mais silenciosas e sofisticadas de preconceito e oposição contra os crentes e os símbolos religiosos”.
O Papa aponta o dedo ao Ocidente, condenando “a hostilidade e os preconceitos contra os cristãos pelo facto de estes pretenderem orientar a própria vida de modo coerente com os valores e os princípios expressos no Evangelho”.
Europa reconciliada com as raízes
Bento XVI deixa votos de que a Europa saiba “reconciliar-se” com as suas próprias raízes cristãs, “fundamentais para compreender o papel que teve, tem e pretende ter na história”. O documento fala na "contribuição ética" da religião no âmbito político e diz que a mesma "não deveria ser marginalizada ou proibida, mas vista como válida ajuda para a promoção do bem comum".
A este respeito, o Papa defende que "a liberdade religiosa deve ser entendida não só como imunidade da coacção mas também, e antes ainda, como capacidade de organizar as próprias opções segundo a verdade".
“Não se pode esquecer que o fundamentalismo religioso e o laicismo são formas reverberadas e extremas de rejeição do legítimo pluralismo e do princípio de laicidade”, escreve. Para Bento XVI, não é admissível “impor ou, ao contrário, negar a religião por meio da violência” em qualquer sociedade.
Nesse contexto, lamenta “formas mais sofisticadas de hostilidade contra a religião, que nos países ocidentais se exprimem por vezes com a renegação da própria história e dos símbolos religiosos nos quais se reflectem a identidade e a cultura da maioria dos cidadãos”.
“Frequentemente tais formas fomentam o ódio e o preconceito e não são coerentes com uma visão serena e equilibrada do pluralismo e da laicidade das instituições”, acrescenta. A falta de liberdade religiosa, alerta, “expõe a sociedade ao risco de totalitarismos políticos e ideológicos, que enfatizam o poder público”.
Por tudo isto, o Papa apela ao diálogo entre instituições civis e religiosas, frisando que “no respeito da laicidade positiva das instituições estatais, a dimensão pública da religião deve ser sempre reconhecida”.
Por isso, refere a mensagem, a pessoa "não deveria encontrar obstáculos se quisesse eventualmente aderir a outra religião ou não professar religião alguma".
"Exorto os homens e mulheres de boa vontade a renovarem o seu compromisso pela construção de um mundo onde todos sejam livres para professar a sua própria religião ou a sua fé e viver o seu amor a Deus com todo o coração, toda a alma e toda a mente", aponta Bento XVI.