Daniel Berg e Gunnar Vingren:Otto Nelson
A Igreja Evangélica Assembléia de Deus da Bahia é fruto do movimento pentecostal brasileiro fundado a 18 de junho de 1911 em Belém do Pará pelos missionários suecos Daniel Berg e Gunnar Vingren, membros da Swedish Baptist Church, Menominee, Michigan, Estados Unidos. O Espírito Santo aproximou esses dois homens por ocasião de uma convenção de igrejas batistas reavivadas, em 1909, na cidade de Chicago. Em mensagem profética o Senhor lhes falou pelo irmão Adolfo Uldin, citando claramente o nome “Pará”, começando assim a nossa história no berço do movimento pentecostal brasileiro, Belém. Gunnar tinha ido aos Estados Unidos em busca de trabalho, face à crise econômica que varria a Suécia. Além de trabalhar para o seu sustento e da família, Gunnar estudou durante quatro anos no Seminário Sueco Batista, sendo habilitado em 1909 e indicado por sua Missão para trabalhar na Índia. Porém, a palavra profética falou mais alto e, em 12 de outubro de 1910, ele embarcou rumo ao Brasil, junto com o amigo Daniel Berg.
Outros missionários chegaram ao Brasil. Entre eles estava Otto Nelson, fundador da Assembléia de Deus no Estado da Bahia. O missionário Nelson chegou em Belém no dia 25 de outubro de 1914, recém-casado com Adina Patterson Nelson, disposto a aprender a língua portuguesa - o que conseguiu em pouco tempo -, indo para Alagoas, Bahia e Rio de Janeiro com o objetivo de pregar o Evangelho. Enviado pelo missionário Gunnar Vingren, o casal Nelson chegou em Maceió (AL) no dia 25 de agosto de 1915, fundando a Igreja Assembléia de Deus com apenas sete pessoas. Em 1918 foram a Recife (PE) e efetuaram o batismo nas águas de três novos irmãos, identificando-se cada vez mais com o povo nordestino e enchendo-se de compaixão pelas almas perdidas.
Do Pará à Bahia
Bem antes de 1924, a irmã Joaquina Carvalho e seu marido José Clodoaldo, crentes batistas, foram perseguidos por homens sem o temor de Deus, na região do rio Salsa, na localidade conhecida como “Os Correia”, onde residiam todos os parentes da irmã Joaquina. Os homens amarraram o irmão Clodoaldo em um mourão e junto a ele fizeram uma grande fogueira. Em meio às chamas, ele clamava: “Ó Jesus! Ó Jesus!”, e o Senhor o ouviu, enviando pessoas em seu socorro. Desgostoso com o que ocorrera, José Clodoaldo resolveu mudar para o Pará, com a esposa. Ela deixou em “Os Correia” seus irmãos Manoel, João, Rita (Ritinha), Inês e Maria Paulina Mendes - casada com o português Cristóvão Gomes (avós do irmão Eliezer Gomes, presbítero da Igreja de Canavieiras por muitos anos e um dos primeiros na Bahia a receber o batismo com o Espírito Santo).
Mais tarde, já no Pará, o casal aceita o Pentecostes que ali estava sendo pregado pelos missionários Vingren e Berg. Batizada com o Espírito Santo, a irmã Joaquina começou a pedir insistentemente a Deus que lhe desse condições de voltar à Bahia para pregar a mensagem pentecostal aos parentes. Uma vez o Senhor lhe mostrou, numa visão, um caminho todo cheio de pedras e ela ouviu uma voz que dizia: “O que vais fazer no Egito?” Assim, ela entendeu que ainda não era chegada a hora da sua viagem. Tempos depois o Senhor lhe mostrou o mesmo caminho, mas desta vez ele estava tão límpido que parecia ter sido varrido especialmente para que ela passasse. A irmã entendeu, então, que era chegada a hora. Ela aproveitou uma estada do missionário Otto Nelson em Belém e, com ele, trouxe a mensagem pentecostal aos parentes na Bahia.
Chegando em Canavieiras, Joaquina e Otto dirigiram-se a “Os Correia”, onde moravam os parentes da irmã. A mensagem foi bem recebida e creram nela Vitória, Edvirgens, Isidoro (mais a esposa e uma filha), e Rita e Inês Mendes, casada com Antônio Correia. Este foi o maior perseguidor da obra no início, inclusive fechando a congregação de “Os Correia” onde se reuniam os irmãos que haviam crido na mensagem pentecostal, e enxotando o pequeno grupo para fora da fazenda. Conta-se que um irmão teve uma visão na qual alguém puxava uma interminável corda de fumo por detrás de Satanás, e nunca terminava de puxar. Também é dito que Antônio Correia morreu muito magro, comendo barro e fumo de corda. A mãe reclamava, mas não adiantava nada: ele continuava a comer barro e fumo, em cumprimento à visão do fumo tirado de Satanás.
A mensagem é bem recebida
De “Os Correia” Joaquina e Otto Nelson desceram até Boca do Córrego, um povoado na margem esquerda do rio Jequitinhonha, município de Belmonte. Lá, outras pessoas também creram na mensagem e receberam o batismo com o Espírito Santo, entre elas José Feliciano de Santana e Maria Feliciana de Jesus (pais de Teodoro Santana), Rosa Damasceno (futura esposa de Teodoro), Adonília Ramos e o irmão Jerônimo, filho de Rita Mendes.
De Boca do Córrego subiram à fazenda Genebra onde, na época, moravam o irmão Purcino Gomes e sua esposa Maria Paulina (crentes batistas e pais do irmão Eliezer Gomes). A fazenda Genebra era uma pequena gleba de terras comprada pelo irmão Purcino de uma sesmaria de mesmo nome, propriedade de um imigrante estrangeiro, George Müller, e administrada por Louis Félix Larchert. Este era filho do francês Félix Larchert, que tinha uma serraria e vendia madeira na região. Um dia, ao descer com uma carga de madeira para Canavieiras, adoeceu subitamente, morrendo naquela cidade e sendo ali enterrado. Sua esposa, Felismina Loureiro, desgostosa, mudou-se para o Rio de Janeiro levando consigo o filho, Louis Félix Larchert, e nunca mais se soube notícias deles. Um dos descendentes de Felismina era Ariano Loureiro (já falecido), fazendeiro na região de Poxim, em Canavieiras. Outro filho de Felismina, João Félix Larchert, ficou na fazenda Genebra. Ele e os filhos Diocleta, Maria, Gervalina e Zózimo Larchert eram presbiterianos. Maria e Gervalina casaram com filhos do irmão Purcino Gomes: a primeira com Domingos Mendes, e a segunda com Eliezer Gomes. Diocleta morreu centenária e sem aceitar o Pentecostes. Zózimo aceitou, porém mais tarde aderiu ao movimento chamado
“A Restauração”, no qual permaneceu até à morte.
Quando Otto Nelson começou a pregar enfrentou muita resistência. A irmã Adonília Ramos diz que o missionário Nelson iniciava a mensagem geralmente falando em línguas e, no quarto da casa, os filhos do irmão Purcino - que eram batistas - faziam barulho e zombavam da pregação. Uma vez, quando necessitou ir a Boca do Córrego comprar víveres, em vez de colocarem uma sela no animal puseram uma cangalha (um assento mais rústico e duro), a fim de humilhar o missionário. Mas, após ouvirem a mensagem, creram e receberam o batismo com o Espírito Santo: Maria Paulina de Carvalho, Maria Ramos, José Ramos, Eliezer Gomes de Carvalho, Maria da Pena e Baldoína Carvalho. Mais tarde, Joaquina Carvalho e Otto Nelson foram para Salvador e, em seguida, Belém, onde a irmã morava, e nunca mais ela apareceu na Bahia. Mas a semente lançada por Joaquina germinou, fazendo surgir um vasto campo que perdura até os dias atuais, produzindo mais e mais frutos, pelos quais ela receberá galardões na eternidade.
No final de 1926 já havia 20 irmãos batizados com o Espírito Santo e Otto Nelson não perdeu tempo, logo enviando o pastor João Pedro da Silva, fiel companheiro, que serviu como obreiro itinerante nos estados de Alagoas, Sergipe e Bahia. Nesse mesmo ano chegou em Canavieiras para tomar conta dos trabalhos na nova comunidade pentecostal e realizar os primeiros batismos, em 1927. Esta boa notícia foi levada até Otto que, movendo o coração para a Bahia, manteve o pastor João Pedro em várias viagens pelo interior, chegando até a realizar vários cultos em Salvador, embora não conste em nenhum registro a conversão de alguém. O pastor João Pedro ainda ficou algum tempo por aqui, indo algumas vezes à fazenda Genebra e, de 1928 a 1929, permaneceu na Ribeira (BA), povoado distante um dia de viagem de Salto Grande, hoje Salto da Divisa, em Minas Gerais. Certa vez o pastor João Pedro contou aos irmãos que a Ribeira não lhe era estranha pois, quando ainda estava em sua terra, por muitas vezes contemplara aqueles casebres cobertos com cascas de árvores e até um pomar que ali existia, em visões. Mais tarde, quando ali chegou, reconheceu prontamente o lugar. Em 1930 o pastor João Pedro partiu definitivamente para Vitória (ES), sendo o primeiro pastor a visitar o trabalho que, havia pouco tempo, tinha sido iniciado ali. Na Bahia, uma irmã teve uma visão na qual um anjo carregava um enorme peixe. Entendeu que o irmão João Pedro iria passar para o Senhor, o que aconteceu em Vitória.
O primeiro pastor da Bahia
Ex-diácono da Igreja Batista, Teodoro Santana foi consagrado, por Otto Nelson, primeiro pastor da Assembléia de Deus na Bahia. Teodoro Feliciano Santana nasceu em 7 de janeiro de 1888, em Santo Antônio de Jesus, na Bahia, e era filho de José Feliciano Santana e Maria Feliciana de Jesus, crentes batistas. Em 1910 Teodoro aceitou ao Senhor Jesus e, em 13 de maio de 1913, foi batizado nas águas.
Em quatro de dezembro de 1914 casou com Rosa Maria Damasceno. Infelizmente, desconhecemos a data em que foi separado para o diaconato, na Igreja Batista - fé que abraçara. Como diácono serviu eficientemente ao Senhor até 1924, quando aceitou a mensagem pentecostal trazida de Belém pela irmã Joaquina Carvalho. Em novembro de 1925, num culto de vigília, recebeu o batismo com o Espírito Santo. Em 1928 Teodoro Santana esteve em Alagoas por alguns meses e mais outros em Pernambuco, sempre sob a orientação segura do pastor Otto Nelson, preparando-se para o santo ministério.
No dia 12 de outubro de 1929, os missionários Otto e Adina realizam o sonho de conhecer os irmãos baianos, chegando em Canavieiras para um grande evento no dia 13, a convite de Teodoro Santana. A expectativa era imensa, pois todos queriam conhecer este baluarte da fé - o casal Nelson. Ao final da festa o ex-diácono da Igreja Batista, que com outros irmãos tinha sido desligado da sua igreja mãe, recebeu um presente do Senhor: Otto, na orientação de Deus, consagra o diácono Teodoro e o nomeia primeiro pastor da Assembléia de Deus na Bahia.
O campo
Estabelecido em Canavieiras, Teodoro começou a evangelizar e a formar o campo onde trabalharia durante toda a vida. Chegou a ajudar nos primeiros trabalhos em Itabuna, passou por Jacinto e trabalhou por algum tempo em Almenara, ambas em Minas Gerais, às margens do rio Jequitinhonha. Logo depois concentrou-se definitivamente nos trabalhos de evangelização em Canavieiras e municípios vizinhos, conseguindo formar um vasto campo abrangendo os atuais municípios de Belmonte, Itapebi, Mascote, Pau Brasil, Camacã, Santa Luzia, Arataca, Jussari e Una, e os distritos de Itaimbé (em Potiraguá) e Palmira (em Itaju do Colônia). A sede do campo esteve sempre em Canavieiras, até 1973.
No distrito de Jacarandá o trabalho de evangelização sofreu forte oposição, inclusive de outras denominações. Conta-se que como o trabalho evangélico não prosperasse ali, o pastor Teodoro amaldiçoou o lugar, dizendo que não duraria e haveria de desaparecer. Mais tarde, com a abertura da rodovia ligando Camacã a Canavieiras, começou a ser formado o povoado de Santa Luzia. Jacarandá deixou de existir como vilarejo e a palavra do pastor se cumpriu. Já a congregação iniciada no rio São Pedro, em Santa Luzia, embora fosse na zona rural prosperou e, até hoje, temos crentes firmes em Jesus que são daquela geração.
Em 1941 João Silva Bonfim converteu-se ao Senhor. Mais tarde o pastor Teodoro o consagrou evangelista, sendo o único em todo o campo. Teodoro, viúvo de Rosa Maria, e com os filhos Abner e Aydée, casou novamente algum tempo depois. Agora com Romana Santana, de quem mudou o nome para Romilda alegando que Romana “lembrava-lhe certa religião”. O pastor Teodoro nunca teve carro mas, apesar disso, passou toda a vida girando pelos municípios que constituíam o campo, cuidando do rebanho que Deus lhe dera. Em 1973, já muito doente, entregou o campo à Convenção em Salvador e se afastou dos trabalhos, ficando com os filhos em Itabuna. Recebia um salário previamente ajustado com o pastor Rodrigo Santana até que, em 21 de setembro de 1977, aos 89 anos, foi descansar no paraíso celeste, aguardando a ressurreição dos santos para entrar, definitivamente, na glória eterna.
A mensagem pentecostal em Salvador
Em 25 de maio de 1930, na Rua Carlos Gomes, seis almas se reuniram para adorar ao Senhor. Foi o primeiro culto da Assembléia de Deus em Salvador
Na Bahia, o fogo do Espírito Santo era como um agente incendiário, de cidade em cidade: Curaçá, Valente, Valença e muitas outras. Os missionários Otto e Adina Nelson entendiam que era o momento de Deus para o Estado da Bahia e, de pronto, arrumaram as malas e vieram se estabelecer em Salvador. Bem no coração da cidade, à Rua Carlos Gomes, 402, fixaram residência e, em 25 de maio de 1930, em companhia das filhas Rute, Ester, Lídia e uma irmã vinda de Maceió que acompanhava a família, fundaram o trabalho pentecostal. Foi um momento histórico, cuja ata está nos arquivos celestiais. O missionário Otto pregou e sua esposa ficou à porta para recepcionar os visitantes que não vieram. Rute, Ester e Lídia cantaram e tocaram acordeon e violão para os anjos, arcanjos e a irmã de Maceió, que representava a Igreja ouvinte. Aleluia! Aleluia! No segundo culto, realizado em 28 de maio de 1930, apareceu um visitante, que se tornaria o primeiro crente. Seu nome era Heliodoro, filho de africano, de boa estatura, barba crescida e aspecto sisudo, que perseverou até à sua chamada para a glória.
O trabalho cresceu e, no dia 7 de dezembro, sete meses após a fundação, foi realizado o primeiro batismo nas águas, com quatro candidatos: Lídia, Rute, Adelina Dias e Presídio Carlos de Araújo. Foi realizado na parte baixa da cidade, no trecho onde é hoje o Comércio. A igreja foi transferida para a Rua dos Capitães, antiga Rua do Tesouro (hoje Rui Barbosa), 45, e depois para a Baixa dos Sapateiros, 75, próximo ao Largo de São Miguel, até que foi alugado um grande prédio na Ladeira do Boqueirão (atual Custódio de Melo), 7, no bairro de Santo Antônio. Era um casarão de dois andares que servira de casa de férias para o imperador Pedro II. Ali foi realizada a primeira Convenção Estadual, cuja finalidade principal era unificar o trabalho em toda a Bahia, desejo ardente do coração de Otto e Adina. Até o vizinho Estado de Sergipe participou dessa união, visto que em 18 de fevereiro de 1932 foi organizada a Assembléia de Deus em Aracaju, com 11 irmãos, tendo sede em Salvador até 1949, quando o pastor Euclides Arlindo Silva assumiu a presidência da Convenção Sergipana, sediada em Aracaju. No final de 1936, o casal Nelson viajou para a Suécia, sendo substituído pelo missionário Aldor Petterson e sua esposa Gerda. Ficaram aqui seus colaboradores, os pastores Firmino Lima e João Pedro da Silva, e a missionária Erma Miller, autora de vários hinos e líder de vendas do Mensageiro da Paz. Os irmãos Otto e Adina foram para o Rio de Janeiro e lá ficaram até 1938, quando se transferiram para a Igreja de Flores, na Argentina.
A PRIMEIRA CONVERSÃO - Pouca coisa se sabe a respeito do primeiro crente da Assembléia de Deus em Salvador. Chamava-se Heliodoro, era descendente de africanos e passou os últimos anos da vida como hóspede da igreja no Boqueirão, ao lado da esposa. Heliodoro aceitou a Jesus no dia 28 de maio de 1930, durante o segundo culto realizado pela família Nelson.